Olá, meu leitor!
Encontrei este texto circulando na internet, fantástico! Resume exatamente o que penso sobre o assunto. Não conheço o autor, mas deixei seu nome no final do texto.
Feliz 2019!
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O PARTO ANIMALIZADO
Para quem estranhou o título, aviso que nunca chamarei um parto que abre mão de tudo que a Humanidade desenvolveu para segurança da mãe e do bebê, voltando ao mesmo primitivismo de animais e povos selvagens de “humanizado”.
Há algumas semanas, vi uma sequência de fotos de uma moça parindo dentro do seu banheiro. As fotos são acompanhadas de um relato da própria, cheio daqueles chavões habituais para descrever algo que até uma gata faz sem se achar melhor por isso.
Porém, o mais triste foi constatar, pelo relato, que o trabalho de parto durou 2 dias; que a criança – uma menina – nasceu “toda trabalhada no mecônio” (frase escrita pela mãe) e que demorou para chorar, mas que a mãe compreendeu que “ela tinha sua hora para isso”. Pior foi saber que, durante todo o trabalho, a parturiente foi assistida por uma doula (o corretor do iOS quis trocar a palavra por “doida” e eu quase deixei) e que a pediatra de plantão (a médica ficou dois dias de plantão no quarto da moça?? Não tem mais nada a fazer?) só entrou no banheiro quando a criança, toda verde, nasceu.
Sim, verde.
Toda a sequência foi fotografada, mostrando a moça somente de sutiã, bastante acima do peso (deve achar que controle de peso na gestação é opressão do patriarcado machista), seguida de fotos da criança toda tingida de verde devido ao mecônio e depois tem uma foto da placenta com péssimo aspecto, igualmente verde.
Não compreendo muito essa necessidade de exposição. Eu nunca fotografaria um exame de próstata meu, ou uma cirurgia de hemorróidas para postar no Facebook e mostrar como sou corajoso. Nas fotos, li um comentário de uma moça que achei muito interessante. Ela dizia que essas mulheres querem ser as protagonistas num evento onde o protagonista deveria ser o bebê. Que parecem mais preocupadas em se expor do que com o bem estar do filho.
Eu havia me surpreendido ao ler a própria moça reconhecer que a filha nascera envolta em mecônio e que demorou para chorar, mas não se preocupou com isso, até ler alguns comentários de respostas de mulheres igualmente fanáticas por parto animalizado afirmando que “a presença de mecônio é diferente da síndrome de aspiração de mecônio”.
Então, eu gostaria de fazer alguns comentários, particularmente para as mulheres jovens, em idade fértil e bem intencionadas. Acredito que muitas dessas mulheres que optam pelo parto domiciliar acreditam estar fazendo um bem ao seu filho.
Entendam que, nos últimos tempos, temos tido um aumento das religiões laicas ou ateístas no mundo. A primeira delas foi o humanismo, que deu origem ao socialismo, a mais difundida e duradoura das religiões laicas. E por que religião? Porque seus princípios se baseiam numa crença praticamente cega a conceitos que, mesmo que se provem errados, continuam a ser respeitados. No caso do socialismo, não adianta se mostrar que nenhum país que o adotou melhorou as condições de vida de sua população e que a imensa maioria descambou para uma ditadura sanguinária, que seus adeptos continuam a acreditar nele.
O veganismo, o neoateísmo, o ambientalismo, os movimentos pelos direitos dos animais constituem outras religiões laicas relativamente novas, mas uma das mais novas é esse movimento pela volta do parto aos moldes primitivos. Procedimentos que foram criados para evitar lesões sérias na mulher, como a episiotomia, são demonizados como se o obstetra os praticasse por puro sadismo. Mas o que caracteriza o conteúdo religioso desse movimento é o fato de terem criado sua própria “ciência” e defenderem suas posições como se 5 mil anos de civilização nada tivessem valido perto dos últimos anos de “conhecimento” desse grupo.
Então vamos a alguns pontos.
– A episiotomia é um procedimento que visa evitar uma complicação do parto normal, que é a rotura do tecido que separa a vagina do ânus. Essa rotura leva a um problema seríssimo, que requer correção cirúrgica e que afeta bastante a autoestima da mulher. Para evitar isso, o médico faz um corte na parede lateral da vagina. Se a cabeça do bebê forçar algum rompimento, será para esse lado, o que será corrigido logo após o parto (o que não será possível se a rotura for em direção ao ânus). Relatos de mulheres que ficaram com cicatrizes desse procedimento são exceções à regra. Já li também relatos de mulheres que ficaram com quadros de dores crônicas e coincidentemente, elas contam que haviam pedido para não serem submetidas à episiotomia, ou seja, já tinham prevenção contra o procedimento e seu quadro doloroso pode ser mais de origem psicológica do que física.
– O mecônio é o nome dado às fezes do feto, antes de começar a se alimentar de leite. É caracteristicamente verde devido à bile e um aspecto muito pegajoso. Não é normal a criança evacuar no líquido amniótico. Isso só ocorre quando existe algum grau de sofrimento fetal. Afirmar que a presença de mecônio não significa que o bebê aspirou esse mecônio é uma das características religiosas desse movimento. Criaram uma diferenciação falsa somente para tranquilizar as mães cujos filhos nasçam “trabalhados no mecônio” como disse a mãe da postagem. Um pouquinho de mecônio até pode ser eliminado em alguns partos, mas para o bebê nascer tingido, é necessário mais de 24 horas de sofrimento fetal, com grandes riscos para o feto.
– Embora muita gente pense que os médicos vão à faculdade de Medicina para aprender a matar os outros, ou pelo menos, tornar suas vidas mais miseráveis, posso garantir que a maioria não estragou sua juventude, estudando feito loucos, ficando sem vida social, com esse objetivo. A maioria queria era ajudar os outros. Se queriam ganhar dinheiro fazendo isso? Claro que sim! Não há mal em se ganhar dinheiro honestamente, ainda mais se ajudamos os outros no processo. Diante disso, desconfiem sempre que alguém fale de médicos como seres que não querem a melhora dos seus pacientes. Se algum médico faz algo ruim ao paciente, provavelmente é por incapacidade, não de caso pensado. Quase todo médico quer ficar famoso como alguém que cura seus pacientes. Dizer que o médico fez uma episiotomia por sadismo já chega às raias da insanidade.
– Um obstetra estudou 6 anos para ser médico, depois mais 3 ou 4 para ser Ginecologista-Obstetra. Uma pessoa achar que uma doula, que entrou nessa modinha há 2 anos, vai ser mais capaz do que um obstetra, é uma prova de fé irracional.
“Ah, mas tem um médico que escreveu um livro apoiando o parto domiciliar…” Lembra que eu sempre me referi aos médicos conscienciosos como “a maioria” ou “quase todos”? Então, fiz isso porque sempre haverá o picareta. Na Medicina e em qualquer outra profissão. Aquele que quer ganhar dinheiro vendendo livros com ideias não científicas, mas que são de grande apelo popular. Perca peso comendo de tudo. Eduque seus filhos sem fazer esforço. Tenha bebês como um animal. Esses médicos são os verdadeiros vilões, não aquele que quer fazer uma episiotomia, ou que defende uma cesariana em casos necessários.
O conceito de religiões sem deus é muito importante para vocês compreenderem por que tantos “ativistas” têm surgido ultimamente. Se antes tínhamos os Testemunhas de Jeová batendo em nossas portas, hoje temos outros tipos de religiosos, querendo impor aos outros suas crenças. Cabe a você decidir se “se converte” ou não.
Mas se o fizer, faça consciente de que está entrando numa nova religião, não num movimento científico.
Maurício Vilela
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