sábado, 29 de dezembro de 2018

O parto animalizado



Olá, meu leitor!

Encontrei este texto circulando na internet, fantástico! Resume exatamente o que penso sobre o assunto. Não conheço o autor, mas deixei seu nome no final do texto.

Feliz 2019!

x-x-x-x-x

O PARTO ANIMALIZADO

Para quem estranhou o título, aviso que nunca chamarei um parto que abre mão de tudo que a Humanidade desenvolveu para segurança da mãe e do bebê, voltando ao mesmo primitivismo de animais e povos selvagens de “humanizado”.

Há algumas semanas, vi uma sequência de fotos de uma moça parindo dentro do seu banheiro. As fotos são acompanhadas de um relato da própria, cheio daqueles chavões habituais para descrever algo que até uma gata faz sem se achar melhor por isso.

Porém, o mais triste foi constatar, pelo relato, que o trabalho de parto durou 2 dias; que a criança – uma menina – nasceu “toda trabalhada no mecônio” (frase escrita pela mãe) e que demorou para chorar, mas que a mãe compreendeu que “ela tinha sua hora para isso”. Pior foi saber que, durante todo o trabalho, a parturiente foi assistida por uma doula (o corretor do iOS quis trocar a palavra por “doida” e eu quase deixei) e que a pediatra de plantão (a médica ficou dois dias de plantão no quarto da moça?? Não tem mais nada a fazer?) só entrou no banheiro quando a criança, toda verde, nasceu.

Sim, verde.

Toda a sequência foi fotografada, mostrando a moça somente de sutiã, bastante acima do peso (deve achar que controle de peso na gestação é opressão do patriarcado machista), seguida de fotos da criança toda tingida de verde devido ao mecônio e depois tem uma foto da placenta com péssimo aspecto, igualmente verde.

Não compreendo muito essa necessidade de exposição. Eu nunca fotografaria um exame de próstata meu, ou uma cirurgia de hemorróidas para postar no Facebook e mostrar como sou corajoso. Nas fotos, li um comentário de uma moça que achei muito interessante. Ela dizia que essas mulheres querem ser as protagonistas num evento onde o protagonista deveria ser o bebê. Que parecem mais preocupadas em se expor do que com o bem estar do filho.

Eu havia me surpreendido ao ler a própria moça reconhecer que a filha nascera envolta em mecônio e que demorou para chorar, mas não se preocupou com isso, até ler alguns comentários de respostas de mulheres igualmente fanáticas por parto animalizado afirmando que “a presença de mecônio é diferente da síndrome de aspiração de mecônio”.

Então, eu gostaria de fazer alguns comentários, particularmente para as mulheres jovens, em idade fértil e bem intencionadas. Acredito que muitas dessas mulheres que optam pelo parto domiciliar acreditam estar fazendo um bem ao seu filho.

Entendam que, nos últimos tempos, temos tido um aumento das religiões laicas ou ateístas no mundo. A primeira delas foi o humanismo, que deu origem ao socialismo, a mais difundida e duradoura das religiões laicas. E por que religião? Porque seus princípios se baseiam numa crença praticamente cega a conceitos que, mesmo que se provem errados, continuam a ser respeitados. No caso do socialismo, não adianta se mostrar que nenhum país que o adotou melhorou as condições de vida de sua população e que a imensa maioria descambou para uma ditadura sanguinária, que seus adeptos continuam a acreditar nele.

O veganismo, o neoateísmo, o ambientalismo, os movimentos pelos direitos dos animais constituem outras religiões laicas relativamente novas, mas uma das mais novas é esse movimento pela volta do parto aos moldes primitivos. Procedimentos que foram criados para evitar lesões sérias na mulher, como a episiotomia, são demonizados como se o obstetra os praticasse por puro sadismo. Mas o que caracteriza o conteúdo religioso desse movimento é o fato de terem criado sua própria “ciência” e defenderem suas posições como se 5 mil anos de civilização nada tivessem valido perto dos últimos anos de “conhecimento” desse grupo.

Então vamos a alguns pontos.

– A episiotomia é um procedimento que visa evitar uma complicação do parto normal, que é a rotura do tecido que separa a vagina do ânus. Essa rotura leva a um problema seríssimo, que requer correção cirúrgica e que afeta bastante a autoestima da mulher. Para evitar isso, o médico faz um corte na parede lateral da vagina. Se a cabeça do bebê forçar algum rompimento, será para esse lado, o que será corrigido logo após o parto (o que não será possível se a rotura for em direção ao ânus). Relatos de mulheres que ficaram com cicatrizes desse procedimento são exceções à regra. Já li também relatos de mulheres que ficaram com quadros de dores crônicas e coincidentemente, elas contam que haviam pedido para não serem submetidas à episiotomia, ou seja, já tinham prevenção contra o procedimento e seu quadro doloroso pode ser mais de origem psicológica do que física.

– O mecônio é o nome dado às fezes do feto, antes de começar a se alimentar de leite. É caracteristicamente verde devido à bile e um aspecto muito pegajoso. Não é normal a criança evacuar no líquido amniótico. Isso só ocorre quando existe algum grau de sofrimento fetal. Afirmar que a presença de mecônio não significa que o bebê aspirou esse mecônio é uma das características religiosas desse movimento. Criaram uma diferenciação falsa somente para tranquilizar as mães cujos filhos nasçam “trabalhados no mecônio” como disse a mãe da postagem. Um pouquinho de mecônio até pode ser eliminado em alguns partos, mas para o bebê nascer tingido, é necessário mais de 24 horas de sofrimento fetal, com grandes riscos para o feto.

– Embora muita gente pense que os médicos vão à faculdade de Medicina para aprender a matar os outros, ou pelo menos, tornar suas vidas mais miseráveis, posso garantir que a maioria não estragou sua juventude, estudando feito loucos, ficando sem vida social, com esse objetivo. A maioria queria era ajudar os outros. Se queriam ganhar dinheiro fazendo isso? Claro que sim! Não há mal em se ganhar dinheiro honestamente, ainda mais se ajudamos os outros no processo. Diante disso, desconfiem sempre que alguém fale de médicos como seres que não querem a melhora dos seus pacientes. Se algum médico faz algo ruim ao paciente, provavelmente é por incapacidade, não de caso pensado. Quase todo médico quer ficar famoso como alguém que cura seus pacientes. Dizer que o médico fez uma episiotomia por sadismo já chega às raias da insanidade.

– Um obstetra estudou 6 anos para ser médico, depois mais 3 ou 4 para ser Ginecologista-Obstetra. Uma pessoa achar que uma doula, que entrou nessa modinha há 2 anos, vai ser mais capaz do que um obstetra, é uma prova de fé irracional.
“Ah, mas tem um médico que escreveu um livro apoiando o parto domiciliar…” Lembra que eu sempre me referi aos médicos conscienciosos como “a maioria” ou “quase todos”? Então, fiz isso porque sempre haverá o picareta. Na Medicina e em qualquer outra profissão. Aquele que quer ganhar dinheiro vendendo livros com ideias não científicas, mas que são de grande apelo popular. Perca peso comendo de tudo. Eduque seus filhos sem fazer esforço. Tenha bebês como um animal. Esses médicos são os verdadeiros vilões, não aquele que quer fazer uma episiotomia, ou que defende uma cesariana em casos necessários.

O conceito de religiões sem deus é muito importante para vocês compreenderem por que tantos “ativistas” têm surgido ultimamente. Se antes tínhamos os Testemunhas de Jeová batendo em nossas portas, hoje temos outros tipos de religiosos, querendo impor aos outros suas crenças. Cabe a você decidir se “se converte” ou não.

Mas se o fizer, faça consciente de que está entrando numa nova religião, não num movimento científico.

Maurício Vilela

sábado, 1 de dezembro de 2018

Ser medico católico exige heroísmo



Publicado em Aleteia

À frente da Federação Internacional das Associações de Médicos Católicos (FIAMC) há alguns meses, o Dr. Bernard Ars, professor universitário (PhD) e especialista em otorrinolaringologia e cirurgia cérvico-facial, definiu três prioridades: “estimular a compaixão particular que nós, médicos católicos, devemos desenvolver diante da precariedade vital e social, espalhando a antropologia e a moral cristã, assim como o justo diálogo entre Fé, Razão e Ciência, permanecendo fiéis à Igreja e a seu Magistério, e aumentar nossa vida interior”.
A FIAMC é composto por 80 associações que representam cerca de 120.000 membros de todo o mundo. Tem uma missão dupla: por um lado, fortalecer os médicos que se comprometem com a federação por sua fé em Jesus Cristo, para ajudá-los a aplicar a mensagem do Evangelho em sua prática diária. Por outro lado, informar a Santa Sé das realidades e evoluções da medicina em relação à clínica e à pesquisa.
– Aleteia: Os médicos católicos estão cada vez mais em situações onde eles devem reivindicar o direito à objeção de consciência, porque os sistemas de cuidados de saúde os obrigam a práticas contrárias à dignidade humana: manipulação genética, eutanásia, aborto… O que você recomenda a esses médicos?
Dr. Bernard Ars: Por um lado, eu os aconselho a estarem sempre cientes de que a cláusula de consciência está incluída em todos os seus contratos com uma instituição ou um colaborador, bem como na legislação de seus países e, por outro lado, formar adequadamente sua própria consciência moral ao longo de sua vida estudando a antropologia cristã e estimulando momentos de revitalização da vida interior.
– O que diz a cláusula de consciência?
O dever da objeção de consciência manifesta a grandeza da dignidade humana. Uma pessoa nunca pode ser forçada a cometer um mal moral. Ela não pode consciente e deliberadamente aderir a uma ação que destrói sua própria dignidade. A liberdade do ser humano é um reflexo da imagem e semelhança que Deus imprimiu de Si mesmo no coração dessa pessoa. Essa pessoa não pode usar sua liberdade para apagar o reflexo da presença de Deus nela.
É por isso que deve resistir às leis humanas injustas. Este foi o caso em certos momentos da história com a discriminação racial e o apartheid, é o caso hoje com o aborto, a eutanásia e outros atos inconciliáveis com a dignidade da pessoa. Se um médico católico se opõe a certas práticas, não é porque seja católico em primeiro lugar, mas porque é uma pessoa, um ser que ouve a voz de sua consciência, iluminada e confirmada pela doutrina da Igreja.
Todos conhecemos a anedota do cardeal Newman, a quem perguntaram se brindaria antes pela consciência ou pelo Papa. Quando ele respondeu que iria levantar a taça primeiro pela consciência e, em seguida, pelo Papa, não tinha a intenção de se opor ao cristão, contra a Igreja, mas honrar a voz única da verdade cujo eco soa primeiro na consciência do cristão, com a confirmação, se fosse necessário, do juízo da Igreja.
– O Papa e a Santa Sé recorrem a sua associação para aprender sobre problemas de bioética. Como o relacionamento com o Vaticano é articulado?
Nossas trocas de informações não dizem respeito apenas a problemas de bioética. A medicina está envolvida em muitas áreas do ser humano: pesquisa científica, cultura, família… Os problemas de bioética são essencialmente da responsabilidade da Academia Pontifícia para a Vida, que depende do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida. Quanto à FIAMC, depende do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral.
– Quais são as questões éticas que hoje são colocadas aos médicos católicos?
Os problemas éticos encontrados pelos médicos católicos variam em intensidade, de acordo com a prática e as regiões do mundo. Por exemplo, os clínicos gerais enfrentam dificuldades éticas e deontológicas no relacionamento pessoa a pessoa. Especialistas médicos enfrentam dificuldades éticas referentes à dominação da tecnociência, à indústria, especialmente a farmacêutica, bem como o consumismo sanitário.
Por último, os pesquisadores médicos enfrentam dificuldades éticas relacionadas aos objetivos e estratégias de trabalho, bem como os laços de financiamento. Muitas vezes, nos últimos anos, a bioética tem sido interpretada e instrumentalizada ideologicamente de maneira inconsistente com seus objetivos iniciais, que eram a defesa da vida e do ser humano, e também a visão cristã da pessoa. Para devolver seu profundo sentido à bioética, é importante formar consciências morais baseadas em uma antropologia cristã atualizada, orientada para o bem comum.
– A medicina contemporânea, baseada no hospital e no big data, corre o risco de perder a relação médico-paciente. Como seria possível recuperar o papel do médico em nossa sociedade?
Além do verdadeiro problema ético do big data, a coleta automatizada de dados do paciente permite um diagnóstico rápido e uma terapia precisa. Embora seja, sem dúvida, um progresso no tratamento de doenças, a tecnicidade da medicina científica tende a reduzir o contato entre médico e paciente a um inventário do desempenho objetivo de funções biológicas essenciais.
No entanto, o paciente espera algo mais do médico. Embora certamente não é indiferente à dor e ao sofrimento de seu corpo e à ameaça que uma doença representa para seu futuro e de seu ambiente, o paciente também espera do médico que lhe ensine a viver com a doença.
– Mas, como você ajuda os doentes a desenvolver sua resiliência?
No paciente, a resiliência é um processo dinâmico e interativo entre você mesmo, sua família e seu meio ambiente e que lhe permite desenvolver uma trajetória nova e bem-sucedida, mudando a representação da realidade que lhe causa mal. Para isso, nós médicos devemos mostrar empatia, apoio, e saber escutar. Ouvir significa dar todo o valor que a palavra do outro merece. Através da escuta aprendemos do paciente o que ele está sentindo, assim como os meios para lidar com isso.
Para que a escuta seja frutífera e benéfica para o paciente, é conveniente respeitar seu ritmo. Não tente forçar as confidências e também devemos discernir o momento favorável para terminar a conversa. A resiliência é um processo de longo prazo. Somente deixando que o tempo faça seu trabalho pode nascer um “novo” modo de vida a partir da doença. Você tem que dar tempo ao tempo. Para que esse momento difícil seja suportável, precisamos saber como vivenciá-lo dia a dia.
– Então, como é dito no Evangelho de Mateus, “basta a cada dia o seu próprio mal”?
Todos os dias há muitas dificuldades, mas cada um tem a coragem de enfrentá-las. Devemos ajudar o paciente a receber os recursos que cada dia oferece e saber como deixar para trás, com confiança, o dia que termina. Mesmo nas piores condições, o ser humano tem a capacidade de se afastar das más circunstâncias usando o humor. Vamos ser receptivos e interativos! “Os homens são fortes enquanto representam uma ideia forte”, disse Freud.
É em torno dessa ideia forte, desse sentido que dá coerência à sua vida, que o ser humano pode ser construído e reconstruído. “Você tem que encontrar o sentido, porque é um objeto de busca, mas em nenhum caso deve ser dado. Cabe ao paciente encontrá-lo por si mesmo”, disse o professor de neurologia e psiquiatria Viktor Frankl. Além disso, o médico católico, além de sua competência científica e empatia humana, é também uma alma que vê Cristo sofrendo em sua doença e reza pelo homem ou mulher que sofre.
– Muitos médicos católicos exercem sua profissão em circunstâncias de extrema pobreza. Existe uma mensagem que você gostaria de passar para esses médicos?
Aos meus queridos colegas, sem dúvida, faltam ferramentas básicas de diagnóstico e terapias atualizadas para cuidar de seus pacientes e salvar vidas humanas. Eu diria a eles que não hesitem em alertar, por todos os meios a sua disposição, as organizações internacionais e seus círculos mais próximos para atenuar a gravidade de sua situação. Não obstante, saibam que são os melhores de nós, sua empatia é mais desenvolvida, e vocês compreendem melhor do que ninguém a angústia dos doentes.
Saibam também que muitos de nós oramos por vocês. E quando nós, médicos, não temos nada mais eficaz a propor que enfrentar a doença e o sofrimento, sempre temos nosso acompanhamento, nossa escuta e nosso tempo para oferecer. Trazemos sempre a esperança. Podemos sempre oferecer, por último e não menos importante, a ajuda poderosa da oração.
– Você poderia nos contar um pouco sobre sua trajetória? Por que decidiu se dedicar à medicina? E como médico cristão?
Eu escolhi a medicina com 17 anos porque era uma profissão de relacionamento humano – de dar e receber – e porque eu sentia que poderia ser feliz praticando-a. Escolhi a otorrinolaringologia porque essa especialidade me dava, em proporções iguais, as alegrias das consultas clínicas, da cirurgia e dos trabalhos funcionais.
Quanto à vocação de médico cristão, não a escolhi na realidade. Ela veio devagar e suavemente. Eu sempre fui crente e praticante. No entanto, diante dos problemas e sofrimentos da vida, a prática cristã e também a minha vida de oração com Jesus me pareciam a única e verdadeira forma de vida.
– Gostaria de dar alguns conselhos aos jovens cristãos que querem se tornar médicos?
Comprometa-se onde quer que seu coração te chame! E quando assumir o compromisso, pratique sem cessar, no nível científico e técnico e de forma contínua. É uma questão de profissionalismo! Mas faça isso também no nível cultural, artístico, filosófico e mesmo teológico, a fim de ter a maior abertura humanística possível na escuta de nossos pacientes.
Com efeito, o paciente que vem nos consultar vem falar de si e espera que o médico ouça e responda. Ele está passando mal. Pode se sentir excluído. A resposta ao paciente se faz de maneira aberta sobre a doença. Isso leva o paciente a refletir sobre si mesmo e a doença que o aflige. A doença arredia e, mais ainda, a morte, podem aparecer como um limite para a eficácia médica. A tendência natural seria escapar dessa doença ou morte, mas o importante é estar disponível para que o paciente não se sinta sozinho diante dessa experiência.
O médico não é dono da vida ou da morte do paciente que lhe foi confiado. Ele não tem seu paciente, mas ele está a serviço da vida da pessoa que sofre. O médico católico vive de Cristo. Tem uma unidade vital, uma coerência em todos os aspectos da sua vida, que implica não só uma competência profissional e responsável, científica e técnica, em colaboração com as outras disciplinas sanitárias mas, acima de tudo, uma vida interior forte e cotidiana, bem como um conhecimento profundo da visão cristã do ser humano.
Em suma, uma antropologia cristã atualizada, expressada tanto na pesquisa quanto na clínica, em uma palavra, na cultura. A medicina não é uma ciência, é uma arte. É a profissão mais bonita do mundo!