Republico, aqui, o belíssimo texto, lúcido e profundo, sobre a famigerada ideologia de gênero, do Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta OCist.
O original saiu aqui:
http://arqrio.org/formacao/detalhes/771/nova-ameaca-da-ideologia-de-genero
x-x-x-x-x
“A
ideologia de gênero é uma tentativa de afirmar para todas as pessoas que não
existe uma identidade biológica em relação à sexualidade. Quer dizer que o
sujeito, quando nasce, não é homem nem mulher, não possui um sexo masculino ou
feminino definido, pois, segundo os ideólogos do gênero, isto é uma construção
social” (Dr. Christian Schnake, médico chileno e especialista em Bioética,
Ideologia de gênero: conheça seus perigos e alcances. Destrave. Canção Nova,
acessado em 2/6/15), conforme expus em Nota Pastoral recém-publicada.
Ora, essa
ideia, que vem sendo difundida como palavra de ordem nos últimos tempos,
apareceu no Plano Nacional de Educação (PNE), mas, graças à mobilização das
forças vivas e atuantes do Brasil, contando, inclusive, com alguns Bispos, foi
banida. Agora, porém, volta ao Plano Municipal de Educação (PME). No mínimo
isso é uma incoerência: colocar no plano municipal o que não consta no federal!
Cada município ficará, pois, por meio de seus vereadores, responsável, diante
de Deus e de seus munícipes, de excluir (se, obviamente, já estiver no texto), até
o fim de junho, a revolucionária ideologia de gênero para as crianças e
adolescentes em fase escolar atendidas pela rede municipal de ensino.
Arbitrariamente, algumas atitudes federais já inserem alguns tipos dessa
ideologia em nossas escolas, mesmo através de livros e outras decisões por
decreto. Querem transferir para a orientação da escola aquilo que as famílias
são chamadas da passar aos seus filhos.
De um
modo amplo, ideologia é um termo que se origina dos filósofos franceses do
século XVIII, conhecidos como ideólogos (Destutt de Tracy, Cabanis etc.) por
estudarem a formação das ideias. Logo depois, passou a designar um conjunto de
ideias, princípios e valores que refletem uma determinada visão de mundo,
orientando uma forma de ação, sobretudo uma prática política.
Hoje, o
termo ideologia parece ser amplamente utilizado, sobretudo por influência do
pensamento de Karl Marx, na filosofia e nas ciências humanas e sociais em
geral, significando o processo de racionalização – um autêntico mecanismo de
defesa – dos interesses de uma classe ou grupo dominante para se manter no
poder (cf. H. Japiassú e D. Marcondes. Dicionário Básico de Filosofia. 3ª ed.
rev. e ampl. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999, verbete ideologia).
Ora, esta
base é que sustenta a ideologia de gênero, cujas raízes merecem ser, em suas
várias vertentes, conhecidas pelo povo brasileiro.
Pois bem,
no período entre as duas grandes guerras mundiais (1918-1939), estudiosos de
diversas áreas – Filosofia, Sociologia, História, Economia, Psicologia etc. –
ligados à chamada Escola de Frankfurt, se puseram a criticar tanto a burguesia
capitalista quanto o comunismo extremado, ou seja, aquele de fundo
marxista-leninista dogmático. Em seu lugar, propunham um marxismo sorridente,
capaz de se difundir no Ocidente dado que aqui se faziam muitas ressalvas ou
críticas ao modelo comunista russo implantado no governo desde novembro de
1917.
Esse
comunismo, mais aberto para enganar os ingênuos, trazia em seu bojo a filosofia
marxista da luta de classes, na qual, segundo o filósofo alemão Frederick
Engels, em sua obra “A Origem da Família, da Propriedade e do Estado”, escrita
em 1884, “o primeiro antagonismo de classes da história coincide com o
desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher unidos em matrimônio
monogâmico; e a primeira opressão de uma classe por outra, com a do sexo
feminino pelo masculino” (New York, 1972, p. 65-66).
Pois bem,
essa luta de classes no modelo tratado por Engels foi unida às teorias de
Sigmund Freud (1856-1939) e transformada também em luta de sexos, na qual a
mulher seria a classe oprimida e o homem a classe opressora. A libertação viria
no momento em que as mulheres se soltassem sexualmente, praticando a
genitalidade sem barreira alguma. Mesmo o “incômodo” do filho teria solução: a
Rússia legalizou o aborto já no ano de 1920, visto que ainda não se conhecia a
pílula anticoncepcional e muito menos os fármacos abortivos.
Infelizmente,
tudo isso não foi libertador, mas tornou muitas mulheres, sempre tão queridas
por Deus, novas escravas, não mais apenas vítimas dos homens, mas de si mesmas,
dado que, talvez na ânsia de se libertarem, acabaram pagando o alto preço dos
efeitos colaterais da libertinagem, especialmente com o aumento da
prostituição, do consumo de álcool e de outras drogas, das pílulas
anticoncepcionais, das pílulas do dia seguinte (abortivas) e do aborto
cirúrgico, cujas sequelas no corpo e na mente podem ser danosas para sempre.
Afinal, nenhuma mulher com uma boa formação humana e cristã, por sua natureza materna
inata, dormirá em paz depois de pensar que assassinou o próprio fruto do seu
ventre.
Logo
depois se assomou a isso tudo o construtivismo social. Que ensina essa escola?
– Ensina a desconstrução da realidade, e, com Jaques Derrida e Michel de
Foucault, foi também aplicada à sexualidade. Para eles não existe a realidade
(objeto) nem o homem que descobre a realidade (sujeito), mas apenas a linguagem
que produz os objetos ao lhe dar os nomes que os classifica e caracteriza.
Essa
linguagem, porém, é fruto de mera construção social que atribui a ela o valor
semântico que quiser. Daí serem esses valores mutáveis como a sociedade, de
modo que o modelo cultural atual é responsável por destruir o anterior, e assim
sucessivamente, inclusive no campo moral. Reina, portanto, o relativismo, e,
para Foucald o pansexualismo: tudo giraria em torno da sexualidade.
Com o
existencialismo ateu, dá-se um passo além, especialmente por obra de Simone de
Beauvoir. Esta ensina que “não se nasce mulher, mas você se torna uma mulher;
não se nasce um homem, mas você se torna um homem”. O gênero seria uma
construção sociocultural sustentada pela experiência. Ora, se a experiência da
mulher foi a de ser dominada pelo homem ao longo da história, na visão de
Beauvoir, toda hierarquia deveria ser eliminada da vida pública e privada para
dar lugar a relações de igualitarismo marxista (não de igualdade cristã) entre
os seres humanos.
Chega-se,
assim, ao feminismo de gênero como uma espécie de síntese de todas essas
correntes que, brevemente, apresentei acima. Esse tipo de feminismo supera o
anterior que o preparou, ou seja, aquele feminismo inicial desejoso de que a
mulher fosse equiparada aos homens. Descreve bem essa evolução feminista a
seguinte declaração de Shulamith Firestone: “Para organizar a eliminação das
classes sexuais é necessário que a classe oprimida se rebele e assuma o
controle da função reprodutiva..., pelo que o objetivo final do movimento
feminista; isto é, não apenas a eliminação dos privilégios masculinos, mas da própria
diferença entre os sexos; assim, as diferenças genitais entre os seres humanos
nunca mais teriam nenhuma importância” (The dialectcs of Sex. Nova York: Bantam
Books, 1970, p. 12).
Tudo isso
leva-nos ao cerne do gênero, que é a permissão para que sejam eliminadas (como
se isso fosse possível) todas as diferenças entre os sexos, complementando
desse modo o que propusera o feminismo anterior ao pregar o seguinte: “a raiz
da opressão da mulher está em seu papel de mãe e educadora dos filhos. Por isso
deve ser liberada de ambas as tarefas, através da contracepção e do aborto e da
transferência da responsabilidade da educação dos filhos para o Estado” (J.
Scala. Ideologia de gênero. São Paulo: Katechesis/Artpress, 2011, p. 21).
Estejamos atentos a algumas leis que já existem em que o Estado interfere na
família e educação dos filhos.
A partir
dos anos de 1980, todos esses ideólogos do feminismo antigo ou de gênero se
uniram a outros lobbies e passaram a combater a família monogâmica e estável
como um estorvo para a liberdade sexual imaginada desde os anos de 1960 para
todos, a fim de destruir os planos perfeitos de Deus e, em seu lugar, impor os
planos falhos da criatura.
O ser
humano, como pessoa, nunca pode ser usado como um instrumento ou um objeto, mas
deve ser contemplado e amado como tal, sendo dotado de dignidade e valores. A
negação da transcendência afeta diretamente a dignidade da criatura humana.
Pois como disse São João Paulo II: "a divindade da pessoa humana é um
valor transcendente, como tal sempre reconhecido por aqueles que se entregam
sinceramente à busca da verdade" (cf. Mensagem de sua santidade João Paulo
II para a celebração do XXXII Dia Mundial da Paz: 1 de janeiro de 1999).
Analisando
essas ideologias supracitadas, percebemos que elas são expressão de
autoritarismos que visam a valorizar seus próprios interesses, fazendo com isso
que a sociedade acabe negando a transcendência do ser humano e,
consequentemente, rebaixando a dignidade do homem, acarretando graves
implicações no campo dos direitos humanos.
Por fim,
podemos concluir que a ideologia do gênero tornou-se um instrumento utilizado
para atacar a dignidade da pessoa e também a família, pois esta representa para
eles um tipo de 'dominação'. Ao contrário, nós dizemos que é pela família que
conseguiremos restaurar tal dignidade; pois é por ela que somos educados e
formamos verdadeiros valores e ideais.
As
perguntas que ficam são: uma sociedade com indivíduos que cultivam ódio a Deus
e tentam destruir valores intrinsecamente sagrados como a vida e a família
poderão ter um futuro promissor? Os seres humanos são mais felizes ou mais
frustrados com tudo isso? Não estaria, em parte ao menos, atrelado a essa
degenerescência dos valores o alto índice de adolescentes e jovens que tentam
buscar escapes nos entorpecentes ou mesmo nas tentativas ou na consumação de
suicídios? As perguntas atuais sobre os rumos da humanidade e as dificuldades
de respostas da sociedade estão a comprovar os descaminhos que a sociedade
hodierna está tomando.
Já não passou
da hora de nos voltarmos mais à misericórdia de Deus e confessarmos confiantes:
Senhor, só Tu tens palavras de vida eterna! (cf. Jo 6,68)? Sim, pois só Ele é a
verdadeira e definitiva libertação de toda opressão que o ser humano possa
sofrer. E ao acolhermos a “palavra de Deus” iremos ver que encontraremos o
verdadeiro “ser humano” criado à imagem e semelhança d’Ele. E veremos que mesmo
os estudiosos e cientistas sérios chegarão à mesma verdade através de suas
reflexões e raciocínios. Cabe a nós, cidadãos de hoje, levarmos avante os
verdadeiros valores desta pátria que amamos e aonde habitamos como cidadãos que
têm direitos e deveres e que se responsabilizam pelo futuro.
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